VICTOR MANUEL CASERTA

( Brasil – Rio de Janeiro )

Nasceu em Buenos Aires / Argentina em março de 1916.  Aposentado, cantor, poeta premiado em diversas participações culturais.
Membro da ALAP, da APPERJ e do Lions Clube Internacional.
Sente-se brasileiro por afinidade.  É filho de mãe brasileira, tem irmãos, filhos e netos aqui nascidos. 
Participou em OFICINA 28 e nas coletâneas PERFIL,  da APPERJ.

OFICINA – cadernos de poesia  29.   Rio de Janeiro: OFICINA Editores, 2001.  108 p.     23 cm.    Ex. bibl. Antonio Miranda

VAI BATER NOUTRO LUGAR

Por que a saudade teima e vem bater
à porta deste coração já cansado?
Apenas para ver-me de novo sofrer
e deixar-me novamente magoado?

Sai de mim tristeza, vai para bem longe
eu quero ficar em paz com os meus versos
que escrevo, qual um monge
para esquecer momentos adversos.

Não venhas mais para trazer recordações
nem queiras vir novamente me empolgar
pois já descartei há tempos as emoções.

       Vivo agora de lembranças, devagar
pois a pressa cansa muito os corações
vai então saudade, bater noutro lugar.



CONFLITOS

Olho para o telefone, hesito
não pretendo mais dar o braço a torcer
quero evitar de novo o conflito
de ouvir sua voz novamente, sofrer.

Faço força para demonstrar coragem
mas existem horas que quase me rendo
meu coração quer me fazer sabotagem
ouvi-la falar de novo, não entendo.

Não basta uma vez uma desilusão?
Para que tentar de novo, diga, por quê?
Afinal nosso amor foi de ocasião
apenas uma diversão para você.

Amor passageiro, qual chuva de verão
que passa arrasando, com trovoada,
assusta até, magoa o coração
volta o sol e ninguém lembra mais nada.



COINCIDÊNCIA

Vivemos você eu, há muitos anos
um romance amoroso, escondido
mas cheio também de brigas, desenganos
separações, voltas, mas tudo perdido.

Por interesses monetários fizeram
você casar com um rico fazendeiro
e assim, bruscamente interromperam
meus sonhos, falou mais alto o dinheiro.

Vinte anos se passaram e veja bem
o curso a que nossa vida nos levou
meu caçula, apaixonou-se por alguém
tua filha, que teus traços herdou.

Ao ser-me apresentada me assustei
pois é você, do passado ressurgindo
a mulher que na adolescência amei
em nossos filhos, nosso amor unindo.

IMAGINAÇÃO FARTA

Ouço bater à minha porta, atendo
não ninguém do lado de fora, sismo
alguém brincando comigo, não entendo
desfaz-se mais uma vez meu otimismo

Minha esperança de você retornar
àqueles lindos tempos da juventude
reatarmos nossos laços de amar
do mesmo modo, com toda plenitude.

Uma rajada de vento na janela
bate as persianas soltas de meu quarto
parece-me ouvir a tua voz, aquela
que ao dizer adeus, causou-me um infarto.

Imaginação farta, mas engraçada
uma convulsão de tosse me desperta
acendo a luz sem entender mais nada
você sumindo da janela aberta.


GRATIDÃO

Nas noites de verão, a brisa amena
faz com que eu fique feliz, bem contente
contemplando a lua, linda, serena
a inspirar poetas do continente.

Vaga-lumes piscando, ali e aquém
mariposas noturnas no candieiro
o coaxar das rãs, no lago, bem além
tudo é paz que não para o dinheiro.

Assim vou compondo meus versos singelos
mentalizando amigos e amores
pois guardo no coração momentos belos
sempre alegres, jamais de dissabores.

Pois todos vocês, são partes de meus versos
de minhas serestas no tempo de cantor
e vou escrevendo poemas diversos
sementes que espalho com muito amor.

As respostas vêm de forma carinhosa
palavras de alento que todos dizem
fazendo de mim, pessoa bem ditosa
ao saber também, que meu nome bendizem.

E como retribuir senão escrevendo?
Liberto então meus pombos mensageiros
e sob suas asas vou remetendo
o meu carinho e amor verdadeiros.

OFICINA 26 – ANO 13  - Editor: Sérgio Gerônimo. Rio de Janeiro – RJ: Cadernos de Poesia, 1998.   
                                    Ex. doado pelo livreiro BRITO – Brasília -DF. 

ANTES QUE SEJA TARDE

Moldaste-me Pai à tua Semelhança
para que eu fosse puro como Tu És
mas neste mundo, perdi a segurança
hoje, pobre de mim, não chego aos Teus Pés.

Perdi-me, neste marasmo traiçoeiro
nas facilidades que o mundo oferta
e fico pensando o dia inteiro:
Por que fechei a porta antes aberta?

Esqueci humildade, carinho, amor
nem lembrei de praticar Caridade
de dividir meu pão, como fez o SENHOR!

O que fazer agora, já quase tarde?
Confiar de novo e pedir, por favor
perdoe-me DEUS e tenha piedade.


CONTANDO ESTÓRIAS

Se pudesse arrancar meu coração
sem ele viver, mesmo atrofiado
matéria de vez toda a sensação
que sinto quando estás bem ao meu lado.

Talvez esteja louco, fora de compasso
como um relógio lindo mas antigo
ou um idoso, que vai passo a passo
buscando sossego em qualquer abrigo.

Mas... pensando bem, não encontro a razão
de aquietá-lo, tirando-o  do peito
e nem tenho por que fugir à emoção
pois tudo em nossa vida tem um jeito.

Basta que eu fique, com tranquilidade
contando estórias de grandes eventos
lembrando casos de minha mocidade
do maior amante de todos os tempos.


NESTA FANTASIA

Esfria meu coração quando pedes
um pouco de carinho e de ternura
é que querida amiga, nunca medes
a distância que há entre nós... loucura.

Tenho-te num pedestal elevado
onde te venero e amo... tu sabes
fazer-te minha é sonho desvairado
e nesta fantasia amor, não cabes

Talvez essa paixão... a consequência
dos versos que te envio com emoção
mas nunca esperei tanta veemência.

Preciso então, calar o coração
e termos os dois, juízo e paciência
para não perdermos um dia a razão.

*

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Página publicada em novembro de 2022